quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Através do Tempo: As Cartas Portuguesas, de Mariana Alcoforado

Depois de passar muito tempo sem publicar no blog pelos motivos que já citei no post anterior, eu volto ao blog trazendo para vocês uma leitura que fiz para a faculdade, e que de certa marcou meu semestre: As Cartas Portuguesas da sóror Mariana Alcoforado. 

O livro epistolar, como diz o próprio título, foi publicado inicialmente em Paris, em 1669, com o título Lettres Portugaises Traduites em François (tradução: Cartas Portuguesas Traduzidas em Francês), por Claude Barbin. No mesmo ano, uma segunda edição foi publicada, revelando o nome de Gabriel de Guilleragues como tradutor. A partir de então as cartas passaram a fazer sucesso pela França e Europa, ganhando diversas edições, até finalmente ser publicada em Portugal, terra onde teriam sido escritas pela jovem freira, Mariana Alcoforado ao seu grande amor, o oficial francês Chamilly.

O livro consiste em cinco pequenas cartas, escritas por Mariana de dentro do convento em que morava, para o seu grande amor, o oficial francês Chamilly. Nelas, a jovem relata, com toda a intensidade de uma apaixonada, o seu sofrimento e a sua angustia por estar longe do amado, que não lhe dá notícias. Por meio das cartas, tomamos conhecimento da história do casal. Eles teriam se conhecido no próprio convento, quando Chamilly havia sido enviado para uma missão oficial na cidade. Eles teriam se apaixonado e vivido esse amor durante um tempo, mesmo contra a duras leis daquele período. Mas um chamado importante teria feito o oficial regressar. Desde então Mariana ficou entregue ao sofrimento de estar sem seu amor. 

No decorrer das cartas, que não possuem dominância narrativa, embarcamos no caos dos sentimentos de Mariana, que possuem toda a intensidade que marca o período barroco. Uma jovem apaixonada, que se vê abandonada, sem notícias dignas do amor incondicional que carrega em seu peito. Ela se queixa, lamenta, declara amor e fidelidade, faz ameaças sucintas, usa de ironia e se joga inteiramente aos pés, mas ele insiste em ignora-la. Com o tempo, a esperança que nutre vai dando lugar a desilusão. Em nenhum momento ela deixa de ama-lo, mas ela vai se convencendo de que não o terá mais, então resolve tentar seguir sua vida. 

A primeira vista, quando você termina de ler as cartas, parece que entrou numa mente confusa, onde nada faz sentido. Mas com o tempo, começa a compreende-la e ver com mais paciência os ápices de seus delírios. Você começa a compadecer com a pobre freira, e a condenar o Chamilly por impor a ela um sofrimento tão angustiante. 

A linguagem utilizada não é muito difícil, então não se preocupe com isso. A leitura é bem rápida. Pode ser feita numa tarde. 

Durante muitos anos foi discutido se as cartas eram mesmo reais ou ficcionais, e quem de fato as escreveu. Algumas teorias defendem que tudo não passa de criação do Guilleragues, pois naquela época as mulheres não tinham liberdades nem “capacidade” de escrever algo do tipo. Já a corrente contrária e mais aceita na literatura, defende que a autoria teria sido mesmo de Mariana e até apresenta evidências da existência de uma freira e um oficial francês com os mesmos nomes, e que eles teriam estado e na mesma cidade na época onde as cartas teriam sido escritas. Eu acredito na segunda corrente, pois os sentimentos que as cartas transmitem são tão reais, que acho muito difícil que tenham sido meras criações da mente do Guilleragues.

O fato é que não importa quem de fato as tenham escrito, as Cartas Portuguesas possuem uma beleza e importância enorme para a literatura portuguesa. E quem gosta de romances epistolares e de uma boa literatura deve incluir essa obra em sua lista leitura.


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